quinta-feira, 24 de novembro de 2011

24 DE NOVEMBRO - DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA


"Hoje é dia 24 de Novembro, Dia Nacional da Cultura Científica, em homenagem a Rómulo de Carvalho: professor, metodólogo, investigador, e autor de manuais escolares, de livros de divulgação científica e de poesia, estes últimos sob o pseudónimo de António Gedeão.
Em 1996, Mariano Gago, o então Ministro da Ciência e da Tecnologia e admirador da obra de Rómulo de Carvalho que completava 90 anos, propôs uma homenagem nacional ao talentoso professor. Mariano Gago já havia prefaciado, em 1992, o livro “A Física no dia-a-dia”, onde dá conta do valor de Rómulo de Carvalho, mas considerou que era oportuna a iniciativa de uma homenagem maior. Na notícia do jornal “Público” de 24 de Novembro de 1996, propôs que aquele dia do ano se tornasse Dia da Cultura Científica.Esse dia devia ser «momento privilegiado, todos os anos, de balanço, de reflexão e de acção sobre o papel do conhecimento no nosso futuro». 
Rómulo de Carvalho publicou cerca de cem obras, desde livros sobre a história da ciência aos seus cadernos de divulgação científica, não esquecendo os manuais escolares, ainda na memória de muitos como os “cadernos do Pedrito” (modo carinhoso de referir os seus livros de Ciências da Natureza) ou os compêndios de Física do ensino secundário.
Publicou dois livros de divulgação de ciência em três números da colecção “Biblioteca Cosmos”, dirigida por Bento de Jesus Caraça, que foi um marco da divulgação de ciência nos anos 40. Foi mentor e autor da coleção “Ciência para Gente Nova”, onde publicou oito dos nove livros dessa coleção. Tratam de histórias de ciência ou de desenvolvimentos tecnológicos: o do telefone, da fotografia, dos balões, da eletricidade estática, do átomo, da radioatividade, dos isótopos e da energia nuclear. Alguns desses títulos chegaram à terceira edição. A “História dos Balões”, conheceu mesmo uma quarta edição nos anos 90.
Rómulo de Carvalho procurou dirigir-se em «Física para o Povo», não a uma elite instruída ou interessada em ciência mas a toda a gente. Publicou esse livro «com a intenção de promover a cultura popular», como ele próprio escreve nas suas «Memórias». A reedição, em 1995, saiu com o novo título de “A Física no dia-a-dia” por decisão de Rómulo de Carvalho que escreve «…não me pareceu bem aquela referência ao povo depois do 25 de Abril.».
Um dos vários trabalhos, com o objetivo de promover a ciência e o conhecimento científico e tecnológico, que Rómulo de Carvalho abraçou após a sua aposentação foram os 18 "Cadernos de Iniciação Científica",onde recorreu a uma linguagem atraente no discurso e na imagem. O valor destes cadernos justifica que eles tenham sido reunidos num só volume, em 2004, com a chancela da Relógio D’Água. Nesse volume encontra-se uma abordagem científica de temas basilares da ciência como os constituintes da matéria, a energia, ondas e corpúsculos, magnetismo e eletromagnetismo."
Helena Aires Rodrigues, Professora de Física e Química na Escola Secundária de D. Duarte – Coimbra e Doutoranda em Ensino das Ciências – ramo de Física. (retirado do blog Rerum Natura)

António Gedeão
 Poema para Galileo

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece, 
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce 
sobre um modesto cabeção de pano. 
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florenca. 
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria 
Eu sei... Eu sei... 
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia. 
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença 
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. 
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa 
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência as coisas que me deste. 
Eu, 
e quantos milhões de homens como eu 
a quem tu esclareceste, 
ia jurar -- que disparate, Galileo! 
-- e jurava a pés juntos e apostava a cabeca 
sem a menor hesitação -- 
que os corpos caem tanto mais depressa 
quanto mais pesados são. 
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia 
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu. 

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo 
e tinhas à tua frente 
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo 
a olharem-te severamente. 
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade 
e da tua condição, 
se estivesse tornando num perigo 
para a Humanidade 
e para a Civilizacão. 

Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios. 
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas 
e poisaram, como aves aturdidas -- parece que estou a vê-las --, 
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas. 
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual 
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal 
e que os astros bailavam e entoavam 
à meia-noite louvores à harmonia universal. 
E juraste que nunca mais repetirias 
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias 
que ensinavas e escrevias 
para eterna perdição da tua alma. 

Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços 
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei. 
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade, 
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos 
a quem Deus dispensou de buscar a verdade. 

Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, 
foram caindo, 
caindo, 
caindo, 
caindo, 
caindo sempre, 
e sempre, 
ininterruptamente, 
na razão directa dos quadrados dos tempos.




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